Joycemar Tejo
outubro de 2011
Tenho falado, como no post sobre James Cannon, que as pessoas (a grande maioria delas) parecem ter a necessidade de um "pai", de algo, uma autoridade, que lhes diga o que fazer, como proceder e, em casos extremos, até como pensar e sentir. Parece algo como uma grande infância espiritual, digamos assim. Ocorre que as gerações se sucedem e a idade adulta não chega. Nascem e morrem crianças- e vão buscar conforto nos "papas" e "pastores", se religiosos, ou nos "guias geniais", nos "grandes timoneiros", nos "pais dos pobres", em termos políticos. O fascismo se alimenta muito disso: o líder fascista é o intérprete da vontade popular (melhor dizendo, é quem diz "o quê" é a própria vontade popular), sendo o povo, assim, incapaz de se autodeterminar, uma mera "ficção teatral" (ver "O fascismo eterno" de Umberto Eco, aqui).
Eu não nutro a menor simpatia por "guias" de qualquer tipo. Muito menos aqueles que o são em nome do socialismo; esquecem que o socialismo é o autogoverno dos trabalhadores, o que pressupõe pessoas autodeterminadas. A ditadura do proletariado é obra da classe em seu conjunto, e não de cabeças "coroadas" e vitalícias. O verdadeiro revolucionário vai recusar seu culto. Lênin é a figura emblemática disso. Quando contrariado dentro do Partido, não apelava à purga ou à vendetta: simplesmente ameaçava demitir-se do Comitê Central e fazer a oposição como militante de base. Mas isso não impediu que, após sua morte, por sincera devoção do povo russo -mas também por oportunismo dos dirigentes- fizessem de Lênin faraó, como no texto de Arthur Conte (aqui).