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segunda-feira, 28 de março de 2011

Limpem, mas do jeito certo


Uma das diferenças entre um sistema ditatorial e outro democrático, mesmo que uma democracia liberal-burguesa capenga, é que neste último há garantias que impedem que o Estado aja como bem entender. Lembro de minhas aulas de Introdução ao Direito, milênios atrás (ok, estou exagerando, séculos): o professor frisava que a constituição existia para proteger o cidadão. É mais que isso, mas esse papel existe sim, e é preponderante. O Estado Democrático de Direito (relativo que seja) tem todo um arcabouço garantista, contra arbitrariedades. O Estado não pode tomar minhas parcas economias por tomar. O delegado não pode me mandar para cadeia por não ir com a minha cara. A polícia não pode me bater apenas por...

Tudo bem, me refiro à teoria. No papel é assim. E já é alguma coisa.

Estou falando isso a propósito da recente decisão do Supremo Tribunal Federal, sobre a Lei da Ficha Limpa. Fux, o novo ministro (substituindo Eros Grau), resolveu o impasse e desempatou: a lei não vale para as eleições de 2010. Reparem, o STF não derrubou a lei, apenas declarou que seus efeitos só se aplicam para as eleições futuras. Era o que deveria ter sido feito desde o início: uma saída tão óbvia que não justificava a celeuma.

sábado, 19 de março de 2011

Bravura- indômita, mas chata


Até o presente momento, Kadafi não caiu- como até recuperou terreno, cercando Benghazi, a "capital" rebelde. E acaba que a ONU autorizou ataque à Líbia, como se vê aqui. Isso é mau. Penso que é melhor Kadafi no poder a uma invasão imperialista como se deu no Iraque ou no Afeganistão, mas, sem dúvidas, penso que é melhor ainda o povo líbio no poder. Digo isso porque os binários, com sua mentalidade "A ou B" (desprezando o C, D, E etc.), acham que ser alvo dos ianques necessariamente faz de alguém -ditador ou regime- heroi. E assim déspotas vêm granjeando apoio dessa esquerda recuada, senil, triste.

Triste me deixou Bravura indômita. Não pelo filme em si, mas pela decepção- eu esperava mais dessa nova produção dos irmão Coen. Não que eu conheça toda sua filmografia, mas quem saiu fascinado com "Onde os fracos não têm vez", como eu, esperava algo maior. E com ansiedade, desde que vi os traillers do filme. "Ilusão treda!" (imitando Augusto dos Anjos). Sinceramente, cheguei a cochilar no cinema, sem exagero. Não é só o protagonista, Jeff Bridges, semi-bufão, não é só o outro mocinho, Matt Damon, risível: é o absurdo de uma menina de 14 anos em meio a xerifes e pistoleiros, caçadores de recompensas e o escambau, atrás do assassino de seu pai. E sem titubear, sem vacilar em nenhum momento. Não há o menor senso de verossimilhança. Não sei se o filme original (pois se trata de uma refilmagem) é melhor; pior, não pode.

segunda-feira, 14 de março de 2011

O prazer de (re)começar


Brecht tem um poema no qual ele alude ao "prazer de começar". Dá vários exemplos: a alvorada anunciando um novo dia, a primeira grama, a primeira página de um livro esperado. O primeiro ruído do motor que pega! E por aí vai. Eu sou um desses, como Brecht, que gosta da sensação de início- aquela de ter toda uma estrada à frente, toda uma página em branco diante de si. Como percorrer essa estrada, não importa, como cobriremos a página é indiferente. O prazer está no percurso, e menos na chegada, parafraseando Isaac Asimov.

O prazer de começar, para mim, neste exato momento, coloco neste novo blog. O "Elogio da Dialética" estava saturado. Foram mais de quatros anos- a vontade de me voltar à tabula rasa foi inevitável. Esse foi um dos motivos. Outro, foi o pouquíssimo retorno nos últimos posts. Caí em contradição com algo que escrevera, um post, romântico e idealista, agora percebo, poucos meses depois- dizendo sobre como quantidade de leitores é irrelevante, e o que é preciso mesmo é escrever. Continuo achando, e sempre acharei, que escrever só traz benefícios para quem escreve. Só por isso é válido. Mas falar com as paredes é pouco estimulante. Pode ser que também este novo blog seja presa do marasmo, mas acho válido tentar. Com esta "Nova Dialética", quero justamente fugir do onanismo intelectual (isto é, a solidão) que marcou os últimos tempos do "Elogio da Dialética". Não se faz, afinal, dialética sem a opinião alheia. Da tese para antítese; quem sabe assim não chegaremos à síntese?

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