Tenho cometido um pequeno pecado: estou comprando mais livros do que posso ler. Acontece que é mais forte do que eu, é uma coisa tipo Van Gogh, que disse "tenho uma paixão mais ou menos irresistível pelos livros" (carta a Théo, junho de 1880). Bota irresistível nisso: a livraria para mim é tentadora, e a Feira do Livro já é a própria perdição. Vincent prossegue: "...e preciso me instruir continuamente, estudar, se você quiser, assim como preciso comer meu pão". O problema é encontrar tempo para a digestão. Na época de Van Gogh era mais fácil: já nossa vida pós-moderna não nos deixa lá muito tempo para a leitura. Dos diversos tipos de "alimentação", a do espírito geralmente fica por último.
Logo, a "fila" vai crescendo e também isso nos dá ansiedade. Somos uma pilha de nervos: até os livros por ler nos deixam nervosos. Se bem que o filósofo Alain de Bottom, na Cult deste mês (a que tem o Slavoj Zizek na capa), diz que
a humanidade é muito ansiosa porque nossa sobrevivência, em grande medida, é baseada na preocupação. Os ancestrais calmos que acaso tivemos morreram muito tempo atrás; aqueles que sobreviveram foram os nervosos. Descendemos de pessoas que se preocupavam com a maior parte das coisas.
Ok, culpa dos genes.