Não costumo julgar ninguém. E acho que ninguém deveria: uma das lições bíblicas mais certeiras (sim, elas existem) é aquela sobre como costumamos "ver o cisco no olho alheio e não ver a trave no nosso próprio". Como acredito muito na individualidade (e como marxista, não poderia ser diferente), penso que não se pode, com acerto, saber o que determinada pessoa sentiu em dada situação; no máximo, podemos conjeturar, imaginar, filosofar. Mas "cada um sabe onde lhe aperta o sapato", de modo que, de fora, é muito fácil dizer como fulano deveria ter falado ou agido. Difícil é estar no lugar do fulano.
Por exemplo, não condeno os presos políticos da ditadura militar brasileira que, sob tortura, delataram companheiros. Seria fácil, aqui da minha cadeira defronte ao computador, falar o quanto foram covardes, frouxos, vis, traidores etc. Mas só quem passou pela situação sabe. Apenas posso imaginar quais efeitos choques elétricos no saco e unhas arrancadas a alicate teriam sobre mim, mas jamais saber, exatamente, o que é passar por isso. Então não recrimino os torturados delatores. Eu próprio não sei qual seria meu limite. É muito cômodo bradar aqui em segurança, "covardes, traidores", mas...