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sexta-feira, 20 de abril de 2012

Vampiros (e adaptações capengas)


Um aspecto atraente, em "Drácula" de Bram Stoker, é o modo como o romance é estruturado: na forma de cartas e registros de diários escritos pelos personagens (o chamado "romance epistolar"). Isso aumenta exponencialmente a carga de suspense, pois não há um narrador onisciente explicando tudo; ao contrário, sabemos da trama apenas aquilo que os próprios personagens sabem. Daí descobrimos com Jonathan Harker a sensação de estranhamento e angústia que é ser prisioneiro no castelo do Conde. O narrador onisciente geralmente é um desmancha-prazeres. Ao invés de nos manter na ignorância, como o protagonista da história, o narrador vai dizer que atrás da porta há isso ou aquilo, e o protagonista não precisa atravessar a porta para descobrir. Bram Stoker foge disso, e acompanhamos passo-a-passo o terror se desenrolar.

Estava ou morto ou dormindo, não posso dizer, pois seus olhos estavam abertos e parados, mas sem o aspecto vítreo que lhes dá a morte, e as faces tinham o calor da vida, apesar da palidez; os lábios estavam vermelhos como sempre. Mas não havia sinal de movimento, de respiração, nem o coração batia. Debrucei-me sobre ele e tentei em vão procurar um sinal de vida. Resolvi ver se as chaves estavam com ele, mas, ao revistá-lo, encontrei seus olhos que refletiam tanto ódio, embora inconsciente de minha presença, que fugi e, saltando a janela do quarto do Conde arrastei-me, de novo, pela parede do castelo.

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