"As cidades invísiveis" de Calvino me lembram estrada, porque terminei de lê-las -as cidades- no ônibus rumo ao Rio de Janeiro, voltando de Resende. De uma cidade a outra, portanto, mergulhei no imaginário de Calvino, e tinha a impressão de rumar para elas -as invisíveis- e não para minha própria casa. E era uma sensação de estranhamento agradável: cidades que só poderiam existir na fantasia, todas repletas de características e traços próprios. Minhas favoritas eram Despina -onde coexistem camelos de selas bordadas e antenas de radar-, Ipásia, com sua simbologia ao contrário, e Teodora, prestes a ser retomada pela fauna esquecida -esfinges, grifos, quimeras, dragões e que tais.
Lembro da comunidade no Orkut, sobre a obra. Fiz uma intervenção, no que fui acompanhado pelos demais membros, sobre o espírito de melancolia que nos domina. Porque temos a vontade de conhecer aquelas cidades; queremos conhecer cada viela e beco, avenidas e, mais que isso, explorar casa a casa. Mas não existem. São invisíveis também sob esse aspecto, o da impossibilidade de concretização. E o impossível machuca.