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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Desejando cidades invisíveis


"As cidades invísiveis" de Calvino me lembram estrada, porque terminei de lê-las -as cidades- no ônibus rumo ao Rio de Janeiro, voltando de Resende. De uma cidade a outra, portanto, mergulhei no imaginário de Calvino, e tinha a impressão de rumar para elas -as invisíveis- e não para minha própria casa. E era uma sensação de estranhamento agradável: cidades que só poderiam existir na fantasia, todas repletas de características e traços próprios. Minhas favoritas eram Despina -onde coexistem camelos de selas bordadas e antenas de radar-, Ipásia, com sua simbologia ao contrário, e Teodora, prestes a ser retomada pela fauna esquecida -esfinges, grifos, quimeras, dragões e que tais.

Lembro da comunidade no Orkut, sobre a obra. Fiz uma intervenção, no que fui acompanhado pelos demais membros, sobre o espírito de melancolia que nos domina. Porque temos a vontade de conhecer aquelas cidades; queremos conhecer cada viela e beco, avenidas e, mais que isso, explorar casa a casa. Mas não existem. São invisíveis também sob esse aspecto, o da impossibilidade de concretização. E o impossível machuca.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Direito Penal máximo e o escroque arrependido


Quem participa de um jogo deve se submeter a suas regras. Não há mistério nisso: se jogo futebol, sei que não posso fazer gols com as mãos. É por isso que não tenho pena dos capitalistas arruinados nas transações do mercado financeiro. Sabem no que estão se metendo, auferem (muitos) lucros daquilo; não podem reclamar, portanto, quando a maré volta. Daí não vejo crime algum no personagem de Michael Douglas em Wall Street: o dinheiro nunca dorme, a menos que coloquemos as coisas claramente e reconheçamos que todo o sistema financeiro é criminoso. Golpes e rasteiras são inerentes, fazem parte do meio. Uns de forma mais "legal", outros "ilegalmente", o que temos é a mesma coisa, cobra engolindo cobra na lei da selva capitalista.

Reiteradamente tornarei à carga, acerca da hipocrisia que é a mentalidade do "direito penal máximo". Para tudo inventam um tipo penal; basta o clamor "popular", basta que se contrarie interesses e eis o direito penal assomando ameaçador. Esquecem que o Direito Penal (em maiúsculas) é a ultima ratio, a última das últimas armas à disposição do Estado. Porque envolve algo muito caro ao ser humano: a liberdade, direito fundamental inscrito a ferro e fogo na epopeia da Humanidade. Perdoem o tom grandiloquente- mas é isso mesmo.

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