Desço pela Av. Rio Branco, no centro do Rio, após a sessão semanal do Instituto dos Advogados Brasileiros. Vejo de longe, na altura da Almirante Barroso, a densa nuvem, como se tivessem soltado muitos, muitos fogos. É asfixiante: para me aproximar (eu e os demais curiosos que começavam a se aglomerar) precisei levar o lenço ao rosto. Uma patrulha já começava a fechar o trânsito, e perguntei ao policial o que se passava. A resposta, algo incrédula, foi "um prédio caiu". Muita incredulidade por parte de todos, mesmo diante da montanha de escombros diante dos olhos. Muita gente já se aproximava, eu inclusive, ávidos para entender o que se passara. Como um prédio tão sólido, que há pouco estava lá firme e forte, em uma fração de segundos se reduzira a uma pilha disforme de concreto? Subitamente alguém gritou e, como é natural em situações dessas, bastou que alguém corresse para que toda a multidão (eu inclusive, também) corresse para longe do local- mas foi alarme falso, não houve mais nenhum desmoronamento. Daí os carros de bombeiros começaram a chegar e a área foi isolada, cortando o barato dos curiosos. Resolvi ir embora: era mais fácil, naquele momento, se informar através da imprensa que já começava a apurar os fatos (uma cobertura sobre os, não um, mas três prédios que desabaram naquela fatídica noite de 25/ 01, aqui).
A morte, quando vem de modo abrupto, repentino, traz sempre consigo o choque. Tragédias imprevisíveis (se era previsível e nada foi feito para que seja evitada, não era uma tragédia e sim um crime) mostram como somos impotentes. De uma hora para outra, sem o menor aviso: ei-nos misturados ao aço retorcido, sob pilhas de entulho, amassados nos escombros. Não se trata de ser mórbido, mas penso que esporadicamente é bom refletirmos sobre essas coisas: para colocarmos nossa arrogância no lugar. Uma fração de segundos e nossos planos são esmagados por toneladas de concreto.