Causam repúdio as manifestações de um Pastor Everaldo, candidato à Presidência pelo PSC, assim como os posicionamentos de um Feliciano na tribuna da Câmara dos Deputados. Política e religião não deveriam se misturar, afinal; o Estado é laico, conforme a Constituição -apesar do inconveniente "sob a proteção de Deus" em seu preâmbulo-, e não estamos mais sob os auspícios da de 1824, que dispunha em seu art. 5º que, verbis, "a Religião Catholica Apostolica Romana continuará a ser a Religião do Imperio". Ainda bem que esse ranço ficou no passado, e lutarei intransigentemente para que não volte. Porém, gostaria de, à luz disso, explicar o porquê de apoiar partidos e movimentos políticos de cariz religioso em outras partes do mundo, para que não pareça uma suposta incoerência de minha parte.
O Hamas e o Hezbollah, aquele sunita e este xiita, respectivamente "Movimento de Resistência Islâmica" e "Partido de Deus" são, evidentemente, organizações de matriz religiosa. Mas a religião, nesses casos, fica em segundo plano diante do caráter progressista que tais organizações adotam no momento atual: a luta do povo palestino em face do Estado de Israel (ou "Entidade Sionista", como preferem chamá-lo), a resistência -especialmente xiita, incluindo o Irã- contra esse mesmo sionismo e o imperialismo estadunidense, principalmente levando em conta o estágio de submissão das monarquias sauditas aos EUA. Ser religioso, buscar força na religião, é secundário- o que importa é o papel concreto de resistência -progressista- que é desempenhado.