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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Sobre meu rompimento com o PCB


Eu me desliguei do PCB em outubro deste ano, em meio às discussões sobre a posição correta para o segundo turno presidencial de 2014. Como o motivo explicitado foi a discordância com a linha tirada pelo CC do Partido, alguns camaradas, na época -inclusive de dentro da organização-, comentaram comigo que "não havia necessidade" de sair por isso, como se a questão fosse estritamente eleitoral. Mas o tópico eleitoral foi apenas o estopim de uma escolha que eu já vinha amadurecendo. Em respeito a essas pessoas, gostaria de voltar ao assunto.

O motivo público, como dito, foi a questão do voto nulo. Falei a respeito em minha nota no Facebook e me reporto a ela. Entendo que é questão vital -no sentido mais literal do termo- para uma organização revolucionária ter noção de tempo, de momento, de oportunidade. O PCB falhou fragorosamente nisso. Nos segundos turnos de 2006 e 2010 capitulou à cantilena do voto crítico, isso quando o PT tinha larga vantagem e a oposição de direita se mostrava tímida. Já no momento atual, quando a esquerda tem sido agredida fisicamente nas ruas, como no infame 20 de junho de 2013, quando sem o menor pudor a grande mídia -de Merval n'"O Globo" à Veja- fala em impeachment, quando PT e PSDB disputam uma eleição na margem de erro... O PCB, de forma "purista", reconhece que o PT não é assim diferente do PSDB e o voto nulo se justifica. Isto é, toda a retórica dos anos anteriores que embasou o voto crítico no passado, deixou de valer na conjuntura atual, quando o PT se mostra, na conjuntura, como a opção efetivamente menos pior (e é duro aceitar isso), e o PCB, então, "acorda" para o fato de que os dois são iguais e que é preciso votar nulo.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

De Deus na política


Causam repúdio as manifestações de um Pastor Everaldo, candidato à Presidência pelo PSC, assim como os posicionamentos de um Feliciano na tribuna da Câmara dos Deputados. Política e religião não deveriam se misturar, afinal; o Estado é laico, conforme a Constituição -apesar do inconveniente "sob a proteção de Deus" em seu preâmbulo-, e não estamos mais sob os auspícios da de 1824, que dispunha em seu art. 5º que, verbis, "a Religião Catholica Apostolica Romana continuará a ser a Religião do Imperio". Ainda bem que esse ranço ficou no passado, e lutarei intransigentemente para que não volte. Porém, gostaria de, à luz disso, explicar o porquê de apoiar partidos e movimentos políticos de cariz religioso em outras partes do mundo, para que não pareça uma suposta incoerência de minha parte.

O Hamas e o Hezbollah, aquele sunita e este xiita, respectivamente "Movimento de Resistência Islâmica" e "Partido de Deus" são, evidentemente, organizações de matriz religiosa. Mas a religião, nesses casos, fica em segundo plano diante do caráter progressista que tais organizações adotam no momento atual: a luta do povo palestino em face do Estado de Israel (ou "Entidade Sionista", como preferem chamá-lo), a resistência -especialmente xiita, incluindo o Irã- contra esse mesmo sionismo e o imperialismo estadunidense, principalmente levando em conta o estágio de submissão das monarquias sauditas aos EUA. Ser religioso, buscar força na religião, é secundário- o que importa é o papel concreto de resistência -progressista- que é desempenhado.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Comentário sobre o estudo do Direito


No blog jurídico, digo como é importante, no estudo do Direito, entender a sociedade que ele busca regular. Ou seja, ao jurista cabe ser filósofo, literato, economista etc., se pretende desempenhar bem seu mister. A interdisciplinaridade é inerente, mas falta essa visão global: estudar filosofia por quê?, perguntam os juridiqueiros, numa mentalidade oriunda -salvo exceções- dos bancos escolares.

As coisas podem ser ainda piores. Com muita, muita boa vontade, pode-se entender que alguém que faz Direito não se sinta inclinado a estudar Filosofia, por exemplo; afinal, dentro de uma cabeça limitada, são coisas que não se dizem respeito. O problema é que essa mentalidade reducionista é trazida para dentro do próprio Direito: uma vez bacharelado, o sujeito que seguirá a Advocacia se "especializará" em determinada área e dará as costas aos demais "Direitos", eis que já totalmente supérfluos. É um erro crasso. O Direito deve ser considerado um bloco monolítico, compacto, coeso. A classificação em diversos "Direitos", Penal, Civil, Tributário etc. deve ser entendida em uma ótica pedagógica: facilitar o trabalho do estudante, tornar claro, ajudar na visualização, não sendo, jamais, uma separação em campos estanques e apartados um do outro.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Velha política, eleições e voto nulo


Joycemar Tejo
agosto de 2014

E os EUA continuam racistas, e a morte de Michael Brown mostra isso. Rancor e exploração demais para serem apagados em uma mera centena de anos, sendo que já com o séc. XX bem adentrado negros ainda eram linchados e pendurados em árvores. A eleição de Obama foi ilusória. Concordo que, independentemente de tudo, foi um fato progressista por si só: um negro eleito no país da Ku Klux Klan, assim como foi um fato progressista por si só Lula, um operário, e Dilma, mulher, serem eleitos. Mas o avanço acaba aí. Política e luta de classes não se resumem à cor da pele e gênero, e um operário que trai é pior que um burguês que apenas cumpre seu papel histórico de burguês. Obama tem a política externa que vemos aí, e tanto faria para isso ter ascendência africana ou escandinava loira de olhos azuis.

A decepção que foi Obama. Não mudaria muito, mas, o que foi...? Lula nunca foi "de esquerda", mas ser o que foi...? E aí o povo perde a esperança na política, pois o salvador se mostra igual ao anterior, até ser substituído pelo salvador seguinte per omnia secula seculorum. Político é tudo a mesma coisa, e nisso devemos concordar- desde que deixemos claro a que tipo de político nos referimos.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

De fundamentalismo e califados


Quem assistir no Youtube aos vídeos do ISIS -Islamic State of Iraq and Syria-, com louvores a suas vitórias sobre o Hezbollah, sobre o exército regular iraquiano etc., pensará que o Califado Mundial é quase uma realidade. Propaganda é a alma do negócio, afinal; e qualquer organização que procura a hegemonia (não apenas militar, mas também no sentido gramsciano, o da busca do consenso) deve "botar a cara".

Mas o assunto do post, após tanto tempo de inatividade do blog, não é agitprop. É uma observação que gostaria de fazer, justamente sobre os conflitos no mundo islâmico. Deixando claro que não pretendo fazer -o que não quer dizer que o risco não exista- como os "orientalistas" de Edward Said, que abordam o tema através de suas preconceituosas e estereotipadas lentes de ocidentais.

A observação é a seguinte: o dito fundamentalismo islâmico moderno nada mais é que expressão de dada circunstância histórico-material. É uma obviedade dizer isso, claro, mas nunca é demais repetir certas platitudes (nome de um de meus outros blogs, aliás). A Irmandade Muçulmana surge no Egito no fim dos anos 20 como forma de resistência contra a presença britânica e os valores ocidentais. Quando o Hamas, em sua constituição, se declara um braço da Irmandade, traz o espírito para a Palestina ocupada, dentro da resistência diante do sionismo. Os jovens montanheses pobres do Afeganistão poucos horizontes possuem senão se engajar numa milícia armada; a analogia com a garotada proletária das favelas do Rio de Janeiro me parece evidente. É preciso a válvula de escape para a frustração e a pobreza. O Islã, nesse caso, cumpre esse papel.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

No bosque nevado


Os quadrinhos não são, como o leigo costuma rotular, coisa de criança. Ao contrário, são um arte completa, tão completa que é preciso a união de duas para lhes dar vida- a pintura e a literatura. Desenho e argumento. Dessa mistura temos o GIBI, apelido infeliz que remete à publicação infantil de tempos idos.

Quadrinhos, arte e literatura. Li às mancheias na infância, Marvel e DC, Marvel mais poético, dramático até, mas DC me falando mais até hoje à memória afetiva, até hoje uma nostalgia doce. E digo com todas as letras, literalmente, que os quadrinhos ajudaram na minha formação cultural. Os autores mais diversos eram citados, referenciados, comentados. Ilustrados. Percy Shelley, em poema que posso reproduzir de cor -és pálida pela fadiga/ de alçar aos céus, fitando, de Gaia, a fonte/ sempre cambiando, com um olho jocoso etc. etc., não garanto memória tão boa assim, já se vão mais de duas décadas-, como abertura de uma história dos Defensores (os Novos Defensores, com o Gárgula, Nuvem, Andrômeda, Anjo ex-X-men, em uma aventura espacial). Henry Miller, quando eu nem sonhava que Henry Miller se tornaria meu autor favorito, abertura do confronto entre o Homem-Aranha e o Homem-Coisa (cópia pobre do Monstro do Pântano da DC). Lembro-me do trecho de Miller: "o mundo está sempre chorando, o mundo está afogado em lágrimas". A citação, do "Sexus" (ou do "Plexus", não tenho certeza), confunde filósofos. Imaginem o efeito disso em um menino de nove, dez anos de idade. A aventura, do Homem de Ferro contra o Dr. Destino, em Camelot, a Camelot do séc. VI de Rei Arthur e Merlin. Batman e cultos satânicos. Adolescentes problemáticos nos Novos Titãs. O vilão que utilizou cartas de tarô para derrotar a Liga da Justiça!!! E eu, naquela idade, sabia o que era tarô? Passei a saber.

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