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sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Velha política, eleições e voto nulo


Joycemar Tejo
agosto de 2014

E os EUA continuam racistas, e a morte de Michael Brown mostra isso. Rancor e exploração demais para serem apagados em uma mera centena de anos, sendo que já com o séc. XX bem adentrado negros ainda eram linchados e pendurados em árvores. A eleição de Obama foi ilusória. Concordo que, independentemente de tudo, foi um fato progressista por si só: um negro eleito no país da Ku Klux Klan, assim como foi um fato progressista por si só Lula, um operário, e Dilma, mulher, serem eleitos. Mas o avanço acaba aí. Política e luta de classes não se resumem à cor da pele e gênero, e um operário que trai é pior que um burguês que apenas cumpre seu papel histórico de burguês. Obama tem a política externa que vemos aí, e tanto faria para isso ter ascendência africana ou escandinava loira de olhos azuis.

A decepção que foi Obama. Não mudaria muito, mas, o que foi...? Lula nunca foi "de esquerda", mas ser o que foi...? E aí o povo perde a esperança na política, pois o salvador se mostra igual ao anterior, até ser substituído pelo salvador seguinte per omnia secula seculorum. Político é tudo a mesma coisa, e nisso devemos concordar- desde que deixemos claro a que tipo de político nos referimos.

Pois é evidente que há dois modos de fazer política. Um, pela continuidade e pela manutenção; outro, pela ruptura e mudança. Se você quer atuar por dentro dos formatos e moldes preestabelecidos, ainda que com a intenção de realizar reformas, será presa fácil do status quo. Pelo motivo óbvio de que reformas não bastam, senão a ruptura. E ruptura radical consoante explica Marx, radical, a que vai à raiz. Ficar nas flores e folhas não basta, é preciso escavar fundo.

Exemplo de baixa política: os pequenos-burgueses massacrados por Marx n'"A Guerra Civil na França", Thiers et caterva. O que há de vil e mesquinho na condução da vida pública. Cá no Brasil encontraremos muitos casos também, por exemplo, as oligarquias que se locupletaram sob o regime empresarial-militar e hoje encontram guarida, vejam só, no governo do PT. Sarney é o exemplo-mor. Diante disso tudo, é compreensível que a cantilena do "político é tudo igual" ganhe eco.

Mas é um erro crasso abdicar da política. Antes de tudo é preciso deixar claro que política não se resume ao processo eleitoral. Mas ele também importa; como toda e qualquer forma de atuação que permita o debate, a discussão e a luta. Participar de uma eleição não é ser eleitoreiro (no sentido de considerar a eleição o fim em si), assim como participar de uma guerra não é ser belicoso (no sentido de considerar a guerra o fim em si). Comparação pueril, aquiesço, porque a acusação de eleitoreiro a um partido leninista -única e exclusivamente porque participa de eleições- é uma acusação pueril.

Mais que pueril: a turma -ajustemos ainda mais o alvo- do "voto nulo" beira, perigosamente, o analfabetismo político, e é por isso que Brecht ilustra o post. Não que o seja, mas pelas suas magistrais linhas.

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