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sábado, 19 de março de 2011

Bravura- indômita, mas chata


Até o presente momento, Kadafi não caiu- como até recuperou terreno, cercando Benghazi, a "capital" rebelde. E acaba que a ONU autorizou ataque à Líbia, como se vê aqui. Isso é mau. Penso que é melhor Kadafi no poder a uma invasão imperialista como se deu no Iraque ou no Afeganistão, mas, sem dúvidas, penso que é melhor ainda o povo líbio no poder. Digo isso porque os binários, com sua mentalidade "A ou B" (desprezando o C, D, E etc.), acham que ser alvo dos ianques necessariamente faz de alguém -ditador ou regime- heroi. E assim déspotas vêm granjeando apoio dessa esquerda recuada, senil, triste.

Triste me deixou Bravura indômita. Não pelo filme em si, mas pela decepção- eu esperava mais dessa nova produção dos irmão Coen. Não que eu conheça toda sua filmografia, mas quem saiu fascinado com "Onde os fracos não têm vez", como eu, esperava algo maior. E com ansiedade, desde que vi os traillers do filme. "Ilusão treda!" (imitando Augusto dos Anjos). Sinceramente, cheguei a cochilar no cinema, sem exagero. Não é só o protagonista, Jeff Bridges, semi-bufão, não é só o outro mocinho, Matt Damon, risível: é o absurdo de uma menina de 14 anos em meio a xerifes e pistoleiros, caçadores de recompensas e o escambau, atrás do assassino de seu pai. E sem titubear, sem vacilar em nenhum momento. Não há o menor senso de verossimilhança. Não sei se o filme original (pois se trata de uma refilmagem) é melhor; pior, não pode.

Mas, bater de frente com caçadores de recompensa? Isso é o de menos. O absurdo máximo, logo no início do filme, é a menina ganhar, na lábia, um banqueiro (!). Isso sim é fantasia digna do "Senhor dos Aneis".

Já "Cisne negro" é diferente. Não quero ir pelo hype -eu que critico modismos e a força da mídia- mas é sem sombra de dúvidas um dos melhores filmes que eu assisti nos últimos tempos. É perturbador desde a primeira cena, num pesadelo -impossível não reconhecer um pesadelo ali- o balé com o macabro Cisne, com a Natalie Portman, maravilhosa, expressando nas feições toda angústia possível. Não foi sem exagero que alguns críticos definiram o filme como um conto de terror, e, terror ou não, decididamente não é um "filme de balé". A atmosfera claustrofóbica atinge o espectador, e a partir daí fica difícil, para o público, entender o que é real ou delírio na mente da protagonista.

Penso que, quando traz pra si o espectador, o filme (e por extensão qualquer obra de arte) cumpre seu objetivo. Até o dito "filme-pipoca", o despretensioso, tem que atingir isso: prender a plateia, segurá-la durante toda a projeção, nem que seja, como convém a um bom "filme-pipoca", para ser esquecido tão logo as luzes se acendam. Em sentido oposto, estão aqueles filmes durante os quais nos levantamos para beber água, ir ao banheiro (claro, se você tem incontinência isso não se aplica) ou tentamos ver, com aquela luzinha minúscula do relógio, quanto tempo falta para acabar. "Cisne negro" está na categoria dos filmes que prendem. Mereceu, com justiça, cada premiação. E agora vejo que o novo filme da Natalie, já em cartaz, é uma comédia romântica com o bobalhão do Ashton Kutcher. Decepção, da água para o vinho.

Enquanto isso, na Líbia, passa-se um filme, triste, como a esquerda que defende acriticamente Kadafi. Aliás, Kadafi tem muito de ator. Ator de comédia, precisamente, como se vê neste mordaz texto de Robert Fisk.

3 comentários:

Vanna disse...

Vc escreveu como um bom crítico d cinema. Gostei. Não assisti ao filme Cisne Negro pois não passou por aqui num horário digno d trabalhadores. rsrs
Bjs, bom fim d domingo.

J.L.Tejo disse...

Como crítico não, apenas um entusiasta, rs ;)

Breno Corrêa disse...

Além de advogado e articulado escritor, Tejo também se mostra crítico de cinema!
Exceto o filme da Líbia que tenho acompanhado, não assisti nenhum dos outros dois, mas depois desta resenha tenho a certeza de que assistirei Cisne Negro, e que nem chegarei perto de Bravura Indômita.

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