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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Desejando cidades invisíveis


"As cidades invísiveis" de Calvino me lembram estrada, porque terminei de lê-las -as cidades- no ônibus rumo ao Rio de Janeiro, voltando de Resende. De uma cidade a outra, portanto, mergulhei no imaginário de Calvino, e tinha a impressão de rumar para elas -as invisíveis- e não para minha própria casa. E era uma sensação de estranhamento agradável: cidades que só poderiam existir na fantasia, todas repletas de características e traços próprios. Minhas favoritas eram Despina -onde coexistem camelos de selas bordadas e antenas de radar-, Ipásia, com sua simbologia ao contrário, e Teodora, prestes a ser retomada pela fauna esquecida -esfinges, grifos, quimeras, dragões e que tais.

Lembro da comunidade no Orkut, sobre a obra. Fiz uma intervenção, no que fui acompanhado pelos demais membros, sobre o espírito de melancolia que nos domina. Porque temos a vontade de conhecer aquelas cidades; queremos conhecer cada viela e beco, avenidas e, mais que isso, explorar casa a casa. Mas não existem. São invisíveis também sob esse aspecto, o da impossibilidade de concretização. E o impossível machuca.

Do livro para o cinema, que dizer do menino-robô de A.I- Inteligência artificial? Querer ser de carne e osso e não poder; querer ter uma mãe DE VERDADE, mas em vão. Segue obstinado. Só que não é possível concretizar o sonho, por mais que os séculos avancem (aliás, quanto mais o tempo avança pior, sendo a mãe humana). Quando penso no sofrimento que o QUERER traz, mais vejo o acerto da lição budista; todavia, não deixo de pensar que QUERER é conditio sine qua non da existência, pois se avançamos é justamente porque queremos, e sobre isso já há um post na Velha Dialética.

Não posso deixar de pensar, a propósito, em "To wish impossible things" do The Cure:

*
Querer -mesmo as coisas impossíveis- faz parte do ser humano. "Quero quero tanta coisa", diz Manuel Bandeira- e isso é bom. Último post do ano, que 2013 seja repleto de anseios e -evidentemente- realizações.

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