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segunda-feira, 14 de março de 2011

O prazer de (re)começar


Brecht tem um poema no qual ele alude ao "prazer de começar". Dá vários exemplos: a alvorada anunciando um novo dia, a primeira grama, a primeira página de um livro esperado. O primeiro ruído do motor que pega! E por aí vai. Eu sou um desses, como Brecht, que gosta da sensação de início- aquela de ter toda uma estrada à frente, toda uma página em branco diante de si. Como percorrer essa estrada, não importa, como cobriremos a página é indiferente. O prazer está no percurso, e menos na chegada, parafraseando Isaac Asimov.

O prazer de começar, para mim, neste exato momento, coloco neste novo blog. O "Elogio da Dialética" estava saturado. Foram mais de quatros anos- a vontade de me voltar à tabula rasa foi inevitável. Esse foi um dos motivos. Outro, foi o pouquíssimo retorno nos últimos posts. Caí em contradição com algo que escrevera, um post, romântico e idealista, agora percebo, poucos meses depois- dizendo sobre como quantidade de leitores é irrelevante, e o que é preciso mesmo é escrever. Continuo achando, e sempre acharei, que escrever só traz benefícios para quem escreve. Só por isso é válido. Mas falar com as paredes é pouco estimulante. Pode ser que também este novo blog seja presa do marasmo, mas acho válido tentar. Com esta "Nova Dialética", quero justamente fugir do onanismo intelectual (isto é, a solidão) que marcou os últimos tempos do "Elogio da Dialética". Não se faz, afinal, dialética sem a opinião alheia. Da tese para antítese; quem sabe assim não chegaremos à síntese?

A dialética está morta. Vida longa à dialética!

Comecemos de novo.

Estou falando em recomeços. As populações da África do Norte e Oriente Médio têm todo um caminho aberto pela frente. Alguns ditadores caíram, como Mubarak e Ben Ali, outros em vias de, como Kadaffi na Líbia. Este último mesmeriza um pouco a esquerda: seu passado antiimperialista ainda ecoa alto na cabeça dos saudosistas, que não percebem que retórica antiimperialista é muito pouco para que se mereça um apoio pela esquerda.

Sou radical. No sentido marxista, claro: ser radical é ir à raiz da coisa. Enquanto muitos entregam apoio por firulas verbais, poucos se detêm no que realmente importa: as reais condições da classe trabalhadora líbia e seu grau de emancipação. É nesse quesito que Kadaffi, com retórica antiimperialista e tudo, perde: em nada se distancia de Mubarak e Ben Ali. E, em todo caso, até a retórica antiimperialista é coisa do passado. Seus conluios com Blair, Berlusconi et caterva dos anos 2000 para cá mostram a subserviência, do governo líbio, ao imperialismo que tentara combater no passado.

O passado. A lata de lixo da História. Mas quero falar do futuro.

Estamos em março. Não é o início do ano, mas ainda assim é um início de ano. O carnaval já passou, e ao contrário do de Manuel Bandeira, foi repleto de alegria. Diz-se que o ano só começa, de fato, a partir do carnaval (o que para mim é uma mentira, janeiro e fevereiro foram particularmente proveitosos).

"Sim, estamos vivos", Leminski diz, dialogando com o inverno. Estamos no verão ainda. Melhor assim, mais começo pela frente.

4 comentários:

Anônimo disse...

Camarada, ótimo (re)começo! Saudações dialéticas!

@PersonalEscrito disse...

Sinto muito prazer em encontrar mais um blog de ativista socialista. Aproveito para divulgar blog de autoria coletiva para a comemoração dos 140 anos da Comuna de Paris: http://amigosdacomuna1871.blogspot.com/
Abraço fraterno, Sonia

zeamerico.adv disse...

A qualidade do debatedor passa necessariamente pela honestidade intelectual. A convicção própria não significa, só por isso, que seja verdade, seja dogma. É preciso aguardar a aprovação do tempo. Parabéns por ter declarado publicamente o erro, posteriormente reconhecido. É um bom recomeço.
Vida longa à nascente Nova Dialética.

J.L.Tejo disse...

Obrigado, Jefferson.

Sonia, vi o blog, parabéns pela iniciativa. Excelente homenagem aos communards, que provaram que o "assalto ao céu" é possível.

Zé Américo, ótimo comentário, concordo plenamente. A postura dialética busca refutar, justamente, o dogma e a "infalibilidade".

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