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terça-feira, 28 de agosto de 2012

Sobre educação (e "socialistas")


Com muita satisfação li a entrevista do matemático francês Cédric Villani, n'"O Globo". O sujeito, considerado um dos maiores matemáticos dos últimos tempos, diz não só que, na educação matemática, mais importante que o conhecimento adquirido é o hábito de pensar, como também que o melhor método de ensino é o do próprio professor. Perfeito, é isso mesmo. Basta de dogmas e cartilhas limitadores- são emburrecedores, e é bom que haja pessoas ilustradas (mesmo que isso reverbere pouco na Academia) atentas a isso. Aliás, matemática, essa injustiçada elegante. Nada mais hermético para mim. Culpa minha, talvez, ou dos professores cheios de dogmas e cartilhas limitadores.

Muito a propósito, dia desses me lembrava da frase de Clóvis Beviláqua, sobre como "o que se deve apurar na educação jurídica não é a expansão cerebral, e sim a fortaleza de espírito, a resistência do caráter" (já citada no blog aqui e, ei, estou ficando repetitivo). Mas a questão -e devemos ser repetitivos nisso- é que o conhecimento deve ter como finalidade a atuação concreta; não apenas absorver, mas digerir criticamente o que é absorvido. E cuspi-lo fora, caso não sirva. Do contrário somos autômatos reproduzindo comportamentos.

Adolfo Sánchez Vázquez, em "Ética & marxismo" (aqui), ao analisar a undécima tese sobre Feuerbach, lembra a dupla perspectiva que o mundo tem diante de nós: objeto de interpretação e objeto de transformação. Interpretá-lo e transformá-lo, porém, não são condutas excludentes; ao contrário, se relacionam. É evidente, assim, que sem interpretação não há transformação (ao menos não transformação consciente), mas há um grande problema quando se fica na interpretação sem que se avance para o estágio seguinte. O conhecimento, entendo eu, deve ser, a) crítico (e não decoreba e passivo) e, b) voltado para a (transform)ação no/do mundo.

*

Nomes não são nada, rótulos não são nada. É no terreno concreto que se vê quem é quem. O discurso engana, a prática não. No Brasil, o PSDB não é social-democrata, nem no sentido do termo antes da Primeira Grande Guerra (isto é, sinônimo de comunismo) e sequer no de depois da Segunda (isto é, como Welfare State). O DEM não é democrático (ou talvez seja, mas a democracia dos gregos antigos, de escravos e exclusão de estrangeiros e mulheres). O PPS não é popular nem socialista, bem como de "dos trabalhadores" o PT tem muito pouco. E não é preciso lembrar o PCdoB, campeão de vilipêndio a conceito- bastam esses exemplos para que verifiquemos o quanto os nomes (ou conteúdos programáticos no papel) pouco ou nada significam diante do fato concreto.

Do Brasil para a França, François Hollande, o presidente "socialista" (e carreguemos nas aspas nisso), ameaçando invadir a Síria (aqui). Os imperialistas, dos "democratas" de Obama ao "socialista" Hollande estão em consonância. Não se trata de apoiar Assad. A esquerda revolucionária não deve ter simpatia por esse regime. E sim de constatar o óbvio: o interesse imperialista-sionista de instalar, na Síria, um aliado dócil. E estão investindo, literalmente, pesado nisso. Robert Fisk, aqui, bate na tecla:

Bashar al-Assad's government faces a resourceful, well-armed and ruthless enemy whose Islamist supporters are receiving help from the West – just as the Islamist mujahedin fighters were funded and armed by the West when they fought the Russians in Afghanistan during the 1980s.

Só não vê quem não quer.

Leio n'"O Globo" que o mesmo Hollande "socialista" tem implementado, contra a população cigana na França, uma política pior que a de Sarkozy. À base de verdadeiras deportações em massa. Esse é o "socialismo" pós-moderno.

1 comentários:

Fernando Rodrigues Felix disse...

Me identifiquei com essa sua postagem, eu sempre quis aprender matemática de modo que fosse uma coisa agradável, mas não tive esse ensejo. Concordo com você que a educação deve ser crítica e que o melhor método é o do professor, sempre procuro fazer isso em sala de aula, é claro que não se deve prescindir dos grandes pensadores da educação sejam estrangeiros sejam brasileiros.

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